segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Senhor das Armas - Parte 2

Charles Taylor, ditador da Libéria.
Prosseguindo a análise de "Senhor das Armas"...   
    Estima-se que mais de 300 mil crianças e jovens com menos de 18 anos lutem em conflitos armados pelo mundo. Os grupos armados da África e do mundo recrutam, cada vez mais cedo, crianças para se engajarem nos conflitos bélicos, e elas, desde cedo, perdem o acesso à educação, à saúde e à proteção social, ou seja, perdem o acesso ao direito básico para sua formação como seres humanos. Esses meninos armados, nascidos na guerra, são condenados a viverem carrascos e a morrerem jovens. Através de doutrinação intensiva (direcionada contra os inimigos a serem atingidos) aliada à dopagem, as crianças entram para o mundo adulto e tornam-se verdadeiros soldados. Assim, defendem suas armas e os ideais de seu grupo guerrilheiro, o qual, de maneira triste, podemos dizer que é sua única forma de família (uma forma deturpada e indigna). Quanto aos diamantes de conflito, a compra ilícita de armamento, na África em especial, é sustentada pela pilhagem dos recursos naturais desse continente, ou seja, os grupos guerrilheiros mantêm uma economia criminosa contrabandeando os espólios das jazidas de minérios de seus países e, até mesmo, de vizinhos. 
    Os “diamantes de sangue”, chamados assim por estarem “manchados” pelo sangue do povo africano, funcionam como moeda de troca. O caso é que a venda por meio do contrabando permite comprar, a preço baixo, pedras brutas que estão entre as mais perfeitas do mundo, e os operadores que têm acesso a essas pedras têm a chance de garantir margens enormes de lucros. Nesse sentido, formam-se verdadeiros exércitos particulares, os quais visam obter o controle das jazidas minerais. Essas jazidas, inclusive, também têm suas concessões e licenças de extração negociadas pelos governos instaurados, sobretudo, com países do Primeiro Mundo. Percebe-se, portanto, um conflito de interesses, que é demonstrado pelas crescentes intervenções da ONU, a qual não encontra solução diante dos milhões em dinheiro que a extração ilegal de minérios ainda gera, visto que se trata de um lucro real e volumoso — mais de um bilhão de dólares anuais de jóias vendidas nas joalherias. Um exemplo é Serra Leoa, país portador da segunda jazida de rutilo do mundo. Nesse país, a Frente Revolucionária Unida (RUF), verdadeira dona do território (controlando metade do país e sujeitando à insegurança a outra metade), consegue inviabilizar qualquer atividade mineradora pesada, como a que as pequenas companhias desejavam conduzir. Essa frente apoiava-se na zona de influência bélica e comercial de Charles Taylor, então presidente da Libéria.  Na capital Monrovia, eram negociadas, então, boa parte dos diamantes de contrabando originários de Serra Leoa, chegando a drenar cerca de 200 milhões de dólares por ano em conexão direta com mercados de armas, de drogas e de lavagem de dinheiro em toda a África e em outros países. O ditador liberiano agia como intermediário, fazendo com que, praticamente, toda a pedra preciosa vinda de Serra Leoa fosse tornada, automaticamente, “liberiana”. O dinheiro das pedras, portanto, compra as armas do tráfico e sustentam o estado de caos e beligerância no continente africano, onde o povo assiste e sofre com uma corrida armamentista local, tanto dos grupos guerrilheiros e dos exércitos particulares, quanto dos governos instaurados.
     Em resumo, o filme aborda a comercialização e o ingresso ilegal de armas para diferentes grupos das jovens nações que querem, muitas vezes, autonomia e independência dos blocos e/ou das potências mundiais. Esse complexo cenário, colocado principalmente para a África (mas também aos outros continentes periféricos), é fruto das décadas de ocupação de colônias européias e traz sinais evidentes de influência da 2ª Guerra Mundial e posterior Guerra Fria. Existem muitos Yuri’s atuando no mundo de hoje, ajudando a promover guerras civis ou, simplesmente, fornecendo a arma para um assalto na esquina de nossas casas. Dessa forma, devem ser buscadas soluções para reduzir o número de vítimas potenciais, coibindo o abastecimento das regiões de conflito e a proliferação da produção tanto legalizada, quanto ilegal de armas. No entanto, dentro da lógica capitalista, é difícil incentivar países, que lucram cifras enormes por ano, a investirem menos em poderio bélico/produção de armas, e mais em outros aspectos que sejam relacionados diretamente com o desenvolvimento do ser humano.
Andre Baptiste, o equivalente fictício de Charles Taylor, caracterizado no filme.

 

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