terça-feira, 22 de maio de 2012

Comércio Triangular: A Base do Sistema Escravista


Alheio como estou ao sofrimento da Xuxa, peço que direcionem sua atenção ao sofrimento daqueles que foram extirpados de suas terras para servir de mão de obra forçada na exploração colonial da América, ao longo de mais de 400 anos. Nos links abaixo, constam apenas representações, porque viver aquele horror do sistema escravista apenas eles viveram...

Montagem do filme Amistad com o poema Navio Negreiro:


Montagem de aluno da UNISC (cenas da série “Raízes”):


PLUS - Pérola do movimento Black no Brasil (clipe da música “A Carne”, de Elza Soares):
http://www.youtube.com/watch?v=oKeg7XPxLU4

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Exploração Colonial em "A Missão" e "Avatar"


   Não há duvida que o contato entre diferentes culturas gera choque. No sentido de que o que é desconhecido é estranho e portanto chocante. Quando a expansão marítima européia começou, ainda no século XV, um resultado inevitável foi um contato com o diferente, o diverso, tanto que esses territórios desconhecidos  eram chamados de Novo Mundo (fora a própria Europa, o Oriente e o norte da África). E analisando esse choque cultural não podemos negar os fatos, os nativos do Novo Mundo saíram perdendo e muito com a chegada  dos europeus. Perderam em vidas, milhões se tornaram em uma parcela até as vezes diminuta da população de alguns países. Perderam suas terras sendo obrigados a migrar e muitas vezes fugir do que se tornou uma invasão, uma vez que os europeus cientes de que esse mundo desconhecido tinha muito a oferecer se apropriaram das terras. O choque se tornou guerra, um conflito que não pode ser reduzido a condição dos índios x europeus, mas sim entre uma diversidade enorme de culturas e povos que se relacionavam entre si e agora tinham novas relações com os também diferentes povos europeus. E são nessas relações de choque entre povos e culturas que se inserem os roteiros que classifico como irmãos de "A Missão" de 1986, logo o irmão mais velho, e o mais recente "Avatar" de 2009. Surpreso? Deixa que eu ti explico...
   O filme "A Missão", que alias conta com Robert De Niro e Jeremy Irons , tem tudo haver com "Avatar" a mais badalada ficção cientifíca dos últimos tempos. Desconfio eu que James Cameron, o diretor de "Avatar", apesar de ter tido toda uma trabalheira¹ para fazer o filme e criar um universo fantasioso alternativo, no final das contas copiou, ao menos, o esqueleto do roteiro de "A Missão". Vamos a análise das duas obras. Ambas tem como pano de fundo a exploração colonial, ou seja, o interesse no lucro por uma das partes na relação colonizador e nativo. Em "A Missão" com ambientação histórica no século XVIII, nas florestas brasileiras e em "Avatar" em um universo alternativo, em um planeta ou lua, seilá o que... A ação dos humanos querendo explorar as riquezas dos Navi's (povo nativo alienígena de Avatar) é igual a ação dos europeus querendo explorar a riqueza e o trabalho dos indígenas em "A Missão". Ok, mas isso ainda não parece uma cópia é uma análise muito superficial sôr... Então ti liga que tem algo bem mais similar nos dois filmes. Os personagens principais são idênticos em termos de relação com a trama .
   Jake Sully de "Avatar" é um aleijado, portanto alguém com severas dificuldades de locomoção e com um problema como um peso a ser superado por um soldado que ele é. Mais, ele vem a se tornar um avatar (encarnação física dos Navi, através de um humano) por força da circunstância da morte de seu irmão. E Rodrigo Mendonza (interpretado por De Niro), personagem principal de "A Missão" é um mercador de escravos espanhol que faz da violência seu modo de vida, terminando por matar o próprio irmão na disputa pela mulher que ama. O remorso pelo assassinato do irmão, leva-o a juntar-se aos jesuítas, ou seja, por força da cirscustância da morte do irmão ele se torna um jesuíta. Rodrigo Mendonza claramente carrega um peso, um problema a ser superado, assim como a deficiência física de Jake Sully. O personagem Rodrigo Mendonza ainda transforma esse peso em realidade nas cenas do filme em que carrega, pelo caminho tortuoso das florestas e cachoeiras, todos os pertences do irmão falecido. Assim a carga dos pertences e da morte do irmão é igual deficiência de Jake Sully, que também se recente de assumir a posição de avatar proposta para seu irmão.
   Não para por aí, o desenvolvimento dos personagens principais é idêntico se excluírmos o elemento da fantasia e da ficção de "Avatar". Enquanto Jake Sully se insere na cultura Navi e descobre cada vez mais sobre esse povo e sobre a região em que vivem, Rodrigo Mendonza passa pelas mesmas situações em relação a tribo indígena² que passa a "proteger" no seio da floresta amazônica. Assim podemos traçar um paralelo entre a catequização jesuíta, junto aos índios, e a ação dos avatares para com os Navi's. Eles buscam por motivações próprias ou por um comando, caso do soldado Sully e do jesuíta Mendonza, conhecer a população local e adequa-lá a exploração colonial, algo como moldá-los ao interesse dos colonizadores. Essa é a intenção que os dois personagens acabam por perverter, a medida que se apropriam daquelas culturas estranhas como se fossem suas e passam a defender os interesses dos colonizados. Dessa situação partem então as cenas finais de conflito em "A Missão" com Rodrigo Mendonza defendendo os índios missioneiros e em "Avatar" Jake Sully lutando ao lado dos Navi contra os colonizadores humanos. Assim os roteiros como que se abraçam e podemos fixar uma ideia interessante a de que os jesuítas agiam como avatares ao estabelecerem um contato mais permanente com os colonizados. 

¹ Comenta-se que começou a trabalhar a ideia ainda em 1995, mas que não havendo a tecnologia necessária na época, investiu para cria-lá.
² Inclusive em uma cena ele é pintado pelos indígenas de forma, que podemos dizer tornou-se um avatar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Visita Simulada

Uma vez que a semana do Unificado nos reserva o 1º simulado do ano, importante momento de revisão e teste de nervos, não vejo motivo para não propor outra simulação. Assim proponho que façam a visita virtual ao site do Museu Histórico Nacional. Em sala de aula já demonstrei meu entusiasmo em ter visitado pessoalmente o museu e voltar lá virou obrigação e não só para rever, mas também para descobrir muito mais. Visto que em minha atendência não tive tempo de visitar todos os acervos disponíveis. O museu, situado no Rio de Janeiro, conta com 65% do patrimônio histórico nacional, sendo assim um dos maiores expoentes em preservação da história e da identidade do Brasil. Dotado de um acervo tão rico o museu é parada obrigatória para quem se interessa por história. E o melhor é que não para no MHN, a museologia brasileira avançou muito nos últimos anos e no país estão se multiplicando as preocupações com a conservação daquilo que é mais importante para construção da identidade do cidadão - a memória de sua comunidade. Logo como não é assim para visitar o RJ fica a dica do site...
http://www.museuhistoriconacional.com.br/ (dentro do site acessem a GALERIA VIRTUAL, tem muita coisa interessante, como por exemplo um conjunto de caricaturas da ex-1ª dama Nair de Teffé)
Mas também fica uma motivação, para sempre que possível enriquecer nosso cotidiano, com os mais diversos museus espalhados pelo nosso Brasil, estado, cidade, esquina... Uma dica fácil é quando estiverem no centro de Porto Alegre, dar uma passadinha rápida no Mercado Público, além das compras, dos restaurantes e dos chopinhos que podem ser desfrutados por lá, temos no 2º andar o Memorial do Mercado sempre dotado de alguma exposição interessante ao público.
Foto do pátio dos canhões do MHN
Washington Luís acervo MHN
  

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Questões de Grandes Navegações e Brasil

Galera de Taquara e Viamão, ficamos 2 períodos atrasados em relação aos conteúdos do Simulado. Então recomendo a leitura das páginas 60-64 do livro 0 e que façam tanto os exercícios do livro teste quanto esse mini pré-simulado proposto no post.

1 - (UFRGS) Entre os fatores a serem considerados para o período das chamadas Grandes Navegações estão:
I – a necessidade de romper o monopólio comercial das cidades italianas.
II – a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos e as dificuldades do comércio daí decorrentes.
III – o aperfeiçoamento das técnicas e dos instrumentos de navegação.
Quais são as corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

2 - Todas as alternativas apresentam fatores que explicam a primazia dos portugueses no cenário dos grandes descobrimentos, EXCETO:
a) A atuação empreendedora da burguesia lusa no desenvolvimento da indústria naútica.
b) A localização geográfica privilegiada de Portugal, para a navegação.
c) A presença da fé e do espírito da Cavalaria e das Cruzadas que atribuíam aos portugueses a missão de cristianizar os povos chamados “infiéis”.
d) O aparecimento pioneiro da monarquia absolutista em Portugal responsável pela formação do Estado Moderno.
e) As instruções de Cristovão Colombo aos navegadores portugueses membros da Escola de Sagres.

3 - A respeito das características gerais do período de nossa História conhecido como Pré-colonial, podem ser destacados os seguintes elementos.
I – A dizimação de tribos e a escravização dos nativos, efeitos diretos da ocupação com base na grande lavoura.
II – Os portugueses realizavam operações guarda-costas no litoral brasileiro, visando preservar a primazia na extração do pau-brasil frente as pretenções de outros navios europeus.
III – A montagem de estabelecimentos provisórios (feitorias) em diversos pontos da costa, onde se amontoavam os troncos de pau-brasil, resultado final do extrativismo vegetal.
Quais são as corretas?
a) Apenas I e II.
b) Apenas II.
c) Apenas II e III.
d) Apenas III.
e) I, II, III.

4 - Os primeiros habitantes do Brasil foram vítimas do processo colonizador. O europeu, com visão de mundo calcada em preconceitos, menosprezou o indígena e a sua cultura. A acreditar nos viajantes e missionários, a partir de meados do séc. XVI, há um decréscimo da população indígena, que se agrava nos séculos seguintes. Os fatores que mais contribuíram para o citado decréscimo foram:
a) a captura e a venda do índio para o trabalho nas minas de prata das colônias espanholas.
b) o canibalismo, o sentido mítico das práticas rituais, o espírito sanguinário, cruel e vingativo dos naturais.
c) as epidemias introduzidas pelo invasor europeu e a escravidão dos índios.
d) as missões jesuíticas do vale amazônico e a exploração do trabalho indígena na extração da borracha.
e) as guerras permanentes entre as tribos indígenas e entre índios e brancos.
 




5 - Observe o cartum ao lado.

Considerando a situação histórica e os significados expressos no cartum acima, analise as seguintes afirmações.
I. O cartum retrata o momento inicial da conquista portuguesa, demonstrando aspectos do “choque cultural” ocorrido entre os conquistadores e os indígenas.
II. A dominação portuguesa do Brasil não se deu unicamente com base na exploração dos recursos naturais e do trabalho indígena, mas também apresentou aspectos nitidamente ideológicos, como a imposição da religião católica aos autóctones.
III. O cartum apresenta o momento inicial do contato interétnico como sendo de tensão e conflito armado e econômico, visto que os nativos reagiram às tentativas de vigilância impostas pelos conquistadores.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas I e II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.

GABARITO: 1-E;2-E;3-C;4-C;5-B;

Prêmio para quem acertou todas as questões! Acesse o link abaixo e se divirta...

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ridley Scott: um diretor e muitas histórias

 R. Scott e Russel Crowe em foto no set de filmagens de Robin Hood.

   O diretor inglês Ridley Scott, mais conhecido por alguns de seus trabalhos com ficção cientifica, como os filmes "Alien - O 8º Passageiro" e "Blade Runner - O Caçador de Andróides", recentemente vem demonstrando uma paixão pela narrativa de fundo histórico. Paixão essa quase sem igual entre os diretores considerados hollywoodianos. Dessa forma evoco a pessoa e obra do diretor para falar de 4 filmes de sua autoria, que ajudam a explicar desde a decadência do Império Romano, passando por toda a Idade Média até o germe de organização dos Estados Nacionais europeus.
   Já de cara explico que R. Scott, quando rodou os filmes, não tinha nenhuma intenção de linearidade ou contar uma História em caráter cronológico, mas que analisando seu trabalho, por um motivo ou por outro, isso acabou acontecendo. Acredito eu, que esse motivo, seja uma transparente paixão por História por parte do diretor. Lembro também que tratam-se de filmes de ficção, mas dotados de ampla pesquisa para a construção das suas representações. Então dito isso vamos aos filmes e um rápido comentário sobre cada um, afinal a ideia desse post é motivar que vocês assistam esses filmes e possam apreender ao mesmo tempo em que se divertem, vide pipoquinha, cobertor de orelha, etc...

"Gladiador" (2000): Um filme extremamente laureado pela academia do Oscar e muito conhecido dos cinéfilos. Preste atenção, no filme, no ponto de rompimento entre Alto e Baixo Império. Pois a trama, se desenvolve após o assassinato do último Imperador do Alto Império Romano, Marcos Aurélio, morto por seu filho Comodus. Trata-se assim de um grande exemplo das disputas pelo trono romano, tanto familiares/dinásticas quanto dos patrícios que apoiavam ou desafiam a concentração de poderes na mão deste ou do próximo imperador (característica importante do Baixo Império). Assim como mostra o filme, havia quase que um leilão do trono, resolvido com jogo de interesses políticos ou através da faceta militar. Ainda, “Gladiador”, obviamente denota atenção ao "Pão & Circo" romanos. Uma estratégia de controle social usada desde tempos da República, mas que ganhou proporções enormes durante o Império com a construção do Coliseu (principal arena dos jogos entre gladiadores). São esses jogos, oferecidos pelos patrícios e que tiravam atenção do povo/plebe dos seus problemas reais, o cerne do filme.

"Tristão e Isolda" (2006): Filme inspirado no romance mítico entre os dois personagens do título. De origem medieval, a lenda foi contada e recontada em muitas diferentes versões ao longo dos séculos até chegar as telas. A dica aqui é assistir ao filme acompanhado, já que é um romance, mas senão der, não tem problema. Aí tu prestas bastante atenção não na relação do casal, mas na relação de dependência pessoal, estabelecida no juramento de fidelidade do cavaleiro Tristão, um vassalo, para com seu rei Marcos, senhor do feudo da Cornualha. Tristão apesar de desesperadamente apaixonado por Isolda, esposa de Marcos, sente-se traindo seu rei e principalmente o laço senhor-vassalo. Tal laço baseado na tradição medieval era regido por uma série de obrigações do cavaleiro para com seu senhor em troca de terras, obrigações que incluíam não comer a mulher do rei... Fica ligado também como, no filme, aparecem constantes conflitos entre os diferentes reinos (regidos por diferentes senhores), demonstrando a principal faceta da Alta Idade Média que é a descentralização política (muitos feudos e reis, mas estes últimos com apenas poder local).


"Cruzada" (2005): Talvez dos 4 filmes o mais marcado em um acontecimento histórico, o evento das Cruzadas da Baixa Idade Média, expedições motivadas pela fé católica, que tinham como objetivo retomar o controle cristão sobre Jerusalém - a Terra Sagrada. O filme é um tanto maniqueísta, marcado por personagens bem definidos entre bem e mal, girando em torno do herói Balin (por isso o maniqueísmo essa coisa de herói quase não existe em História...), um cavaleiro, que após o chamado de seu pai migra em direção à Jerusalém visando defender os interesses cristãos e também de sua linhagem nobre. A dica aqui é se blindar do propenso heroísmo de Balin, já que é difícil de acreditar que existia um cavaleiro desses lutando nas Cruzadas. Então, vacinados podemos ver que o diretor R. Scott também se preocupou em mostrar o conflito, entre cristãos e mouros, como um jogo de interesses com vitórias e derrotas para os dois lados. Ajudando a demonstrar com o filme, que apesar da fachada religiosa das expedições dos cruzados, elas revelavam uma Europa invasora, em enfrentamento com o mundo Árabe-Mulçumano. Tratava-se assim de uma relocação, para fora da Europa, das rivalidades feudais. Tais disputas feudais entre reinos cristãos (evidentes no filme) eram deixadas em segundo plano em favor da ideologia cristianizadora das Cruzadas, assim como tu deve deixar em segundo plano o heroísmo de Balin.


“Robin Hood” (2010): Mais uma vez R. Scott volta a narrativa mítica. Mas dessa vez retratando as origens do bandido social Robin Hood. Afinal seu lema era “tirar dos ricos para dar aos pobres”, algo que representava a faceta de contestação social desse personagem lendário – herói, mesmo que mítico, do nacionalismo inglês. O filme é ambientado no período da Baixa Idade Média, em meio à crise geral do feudalismo. Tal crise era caracterizada pela Peste Negra[1], pela Grande Fome[2] e também pelas influências negativas das derrotas dos soldados cruzados. Precisamente, no filme, essa situação esta subentendida, uma vez que encontramos a evolução do personagem Robin em meio a uma situação de extrema exploração da mão de obra camponesa. A trama retrata o herói, de origem humilde, se envolvendo por força do destino em disputas de poder dos barões ingleses. Tais disputas eram resultado do fracasso da cruzada promovida pelo rei inglês[3] Ricardo Coração de Leão. Seu sucessor, Príncipe John, encontrando uma coroa endividada e envolvida em disputas com o reino da França (diplomáticas e militares), não encontrou outra saída senão aumentar os impostos sobre seus nobres/vassalos. O mérito do filme para ajudar na perspectiva da História se encontra aí, quando retrata essa cobrança excessiva recaindo sobre a maioria explorada camponesa à serviço dos vassalos. Sob pressão os camponeses organizaram revoltas, essas não aparecem no filme (fica um clima de continuação), mas só a aparição do mito de Robin Hood, já explica esse conflito social dos fins da Idade Média.

[1] Doença epidêmica que se alastrava devido às péssimas condições sanitárias do período.
[2] Uma vez que muitos camponeses eram obrigados ou simplesmente aderiam as Cruzadas, faltavam trabalhadores no campo, algo que se agravou mais ainda com as epidemias do século (XIV) gerando escassez de alimentos.
[3] O reino da Inglaterra já existia nesse ponto, mas faltava ainda o elemento centralizador do Absolutismo para que se estruturasse em um Estado Nacional unificado.