segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Senhor das Armas - Parte 2

Charles Taylor, ditador da Libéria.
Prosseguindo a análise de "Senhor das Armas"...   
    Estima-se que mais de 300 mil crianças e jovens com menos de 18 anos lutem em conflitos armados pelo mundo. Os grupos armados da África e do mundo recrutam, cada vez mais cedo, crianças para se engajarem nos conflitos bélicos, e elas, desde cedo, perdem o acesso à educação, à saúde e à proteção social, ou seja, perdem o acesso ao direito básico para sua formação como seres humanos. Esses meninos armados, nascidos na guerra, são condenados a viverem carrascos e a morrerem jovens. Através de doutrinação intensiva (direcionada contra os inimigos a serem atingidos) aliada à dopagem, as crianças entram para o mundo adulto e tornam-se verdadeiros soldados. Assim, defendem suas armas e os ideais de seu grupo guerrilheiro, o qual, de maneira triste, podemos dizer que é sua única forma de família (uma forma deturpada e indigna). Quanto aos diamantes de conflito, a compra ilícita de armamento, na África em especial, é sustentada pela pilhagem dos recursos naturais desse continente, ou seja, os grupos guerrilheiros mantêm uma economia criminosa contrabandeando os espólios das jazidas de minérios de seus países e, até mesmo, de vizinhos. 
    Os “diamantes de sangue”, chamados assim por estarem “manchados” pelo sangue do povo africano, funcionam como moeda de troca. O caso é que a venda por meio do contrabando permite comprar, a preço baixo, pedras brutas que estão entre as mais perfeitas do mundo, e os operadores que têm acesso a essas pedras têm a chance de garantir margens enormes de lucros. Nesse sentido, formam-se verdadeiros exércitos particulares, os quais visam obter o controle das jazidas minerais. Essas jazidas, inclusive, também têm suas concessões e licenças de extração negociadas pelos governos instaurados, sobretudo, com países do Primeiro Mundo. Percebe-se, portanto, um conflito de interesses, que é demonstrado pelas crescentes intervenções da ONU, a qual não encontra solução diante dos milhões em dinheiro que a extração ilegal de minérios ainda gera, visto que se trata de um lucro real e volumoso — mais de um bilhão de dólares anuais de jóias vendidas nas joalherias. Um exemplo é Serra Leoa, país portador da segunda jazida de rutilo do mundo. Nesse país, a Frente Revolucionária Unida (RUF), verdadeira dona do território (controlando metade do país e sujeitando à insegurança a outra metade), consegue inviabilizar qualquer atividade mineradora pesada, como a que as pequenas companhias desejavam conduzir. Essa frente apoiava-se na zona de influência bélica e comercial de Charles Taylor, então presidente da Libéria.  Na capital Monrovia, eram negociadas, então, boa parte dos diamantes de contrabando originários de Serra Leoa, chegando a drenar cerca de 200 milhões de dólares por ano em conexão direta com mercados de armas, de drogas e de lavagem de dinheiro em toda a África e em outros países. O ditador liberiano agia como intermediário, fazendo com que, praticamente, toda a pedra preciosa vinda de Serra Leoa fosse tornada, automaticamente, “liberiana”. O dinheiro das pedras, portanto, compra as armas do tráfico e sustentam o estado de caos e beligerância no continente africano, onde o povo assiste e sofre com uma corrida armamentista local, tanto dos grupos guerrilheiros e dos exércitos particulares, quanto dos governos instaurados.
     Em resumo, o filme aborda a comercialização e o ingresso ilegal de armas para diferentes grupos das jovens nações que querem, muitas vezes, autonomia e independência dos blocos e/ou das potências mundiais. Esse complexo cenário, colocado principalmente para a África (mas também aos outros continentes periféricos), é fruto das décadas de ocupação de colônias européias e traz sinais evidentes de influência da 2ª Guerra Mundial e posterior Guerra Fria. Existem muitos Yuri’s atuando no mundo de hoje, ajudando a promover guerras civis ou, simplesmente, fornecendo a arma para um assalto na esquina de nossas casas. Dessa forma, devem ser buscadas soluções para reduzir o número de vítimas potenciais, coibindo o abastecimento das regiões de conflito e a proliferação da produção tanto legalizada, quanto ilegal de armas. No entanto, dentro da lógica capitalista, é difícil incentivar países, que lucram cifras enormes por ano, a investirem menos em poderio bélico/produção de armas, e mais em outros aspectos que sejam relacionados diretamente com o desenvolvimento do ser humano.
Andre Baptiste, o equivalente fictício de Charles Taylor, caracterizado no filme.

 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Senhor das Armas - Parte 1

    Nicolas Cage, encarna um personagem que condensa histórias de diversos traficantes de armas reais.

    O filme “O Senhor das Armas” é narrado em off do início ao fim pelo personagem principal, Yuri Orlov, através de uma lógica imparcial de sua mentalidade, ou seja, ele não toma posições, nem tem grandes crises de consciência, apenas persegue constantemente o lucro desde o momento em que decide adentrar no mercado de venda de armas. A narração irônica começa com essas frases: “Existem mais de 550 milhões de armas de fogo em circulação no mundo. Isso significa uma arma para cada 12 pessoas. A única pergunta é: como armar as outras 11?”. Yuri, portanto, opera sob a lógica do lucro e não tem preocupações quanto aos males que seu comércio ilegal de armas acarreta, inclusive pelo fato de entender que o comércio legalizado leva às mesmas conseqüências. A história de “O Senhor das Armas” é baseada na vida de traficantes de armas, cuja especialização é o mercado da morte e exploração das riquezas dos países subdesenvolvidos, em especial a África, onde o processo de descolonização associado ao fomento de conflitos civis, por parte da indústria armamentista, tem levado diversas áreas do continente a uma condição de miséria e de subdesenvolvimento.
    O longa aborda temáticas do período de intensificação da corrida armamentista na Guerra Fria e do posterior colapso do regime comunista soviético. É apresentado, inclusive, como o armamento construído no período da Guerra Fria foi e tem sido utilizado em conflitos “quentes” nas regiões periféricas do mundo, contribuindo, então, para o subdesenvolvimento e constante violação dos direitos humanos nesses países. A corrida armamentista estabelecida entre EUA e URSS durante as décadas de 1970 e 1980 produzira um arsenal de combate “adormecido”. E, durante a Guerra Fria, a questão do desarmamento a nível mundial só foi tratada sob o enfoque das armas de destruição em massa e no sentido da contenção nuclear. O desenvolvimento da tecnologia nuclear era um dos principais objetivos na luta pela afirmação do poder entre as potências da Guerra Fria. Assim, o medo de uma hecatombe nuclear por parte da comunidade internacional resultou numa série de acordos para conter a proliferação desse tipo de armamento. No entanto, não havia acordos quanto às armas leves e de pequeno calibre (ALPC). De acordo com Kofi Annan, Secretário da ONU em 1999, “Armas leves e pequenas prejudicaram o desenvolvimento e impediram a segurança humana de todas as formas. Assim, talvez seja pouco provável que outra ferramenta de conflito seja tão espalhada, tão facilmente disponível e tão difícil de restringir que as armas pequenas”.Somente em 1995, uma resolução das Nações Unidas refere-se ao perigo desse tipo de armamento e seu impacto negativo sobre o desenvolvimento dos Estados e na afirmação da segurança internacional. A falta de um código de conduta internacional e a crescente abertura de fronteiras, característica do pós-Guerra Fria, facilitou a ação dos traficantes de armas (representados, no filme, por Yuri), os quais puderam, dessa maneira, fornecer meios para a dominação de Estados por ditadores, grupos terroristas, rebeldes ou guerrilheiros. O tráfico dessas armas fomentou e fomenta situações de guerra, assim como a violência urbana (a estimativa de mortes causadas pelas ALPC é de, aproximadamente, 500 mil ao ano, dos quais 300 mil ocorrem em conflitos armados). O controle do comércio legal de armas esbarra, muitas vezes, no interesse e no direito dos países à autodefesa. Forjar normas e regulamentações para a produção de armamento sempre foi um desafio para os órgãos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas), frente à lógica capitalista. Sendo assim, podemos constatar o fato de grande parte das armas utilizadas nos conflitos serem originalmente legais, legalmente adquiridas e, posteriormente, roubadas ou desviadas.
    Entende-se que a África sofre em demasia devido aos muitos conflitos que abriga, e vemos isso no filme pela narração de Yuri: “A África tornara-se o grande mercado dos anos 90: Onze grandes conflitos envolvendo 32 países em menos de uma década. O sonho de um contrabandista de armas.”. Os conflitos sustentados pela disseminação ilícita de armas, como os que ocorrem na África durante esse período e que estão presentes no filme, fazem desaparecer a fronteira entre conflitos armados e criminalidade. Assentam menos na procura de vantagens militares e políticas do que no colapso total dos Estados. Os grupos militares protagonistas voltam-se, portanto, mais ao controle dos recursos naturais e ao seu comércio ou ao controle do tráfico de entorpecentes, tornando a situação de conflito quase permanente, já não podendo mais ser considerada como uma breve interrupção no desenvolvimento dos países. São guerras de longa duração, onde países ditos “em situação de pós-conflito”recaem continuamente em violência social. Essas guerras assemelham-se às formas de “guerra total” e, muitas vezes, os objetivos pretendidos são de curto prazo e centrados no lucro. Os autoproclamados Exércitos de Libertação Nacional, os quais se proliferam no Terceiro Mundo, conduzem esses conflitos “permanentes” e, normalmente, tratam-se de facções armadas oportunistas, sem disciplina militar, sendo freqüentemente responsáveis por graves violações do direito humanitário e dos direitos humanos contra as populações civis, especialmente mulheres e crianças. No filme, Yuri fecha a maior parte dos seus negócios com Andre Baptiste, tendo sido esse personagem baseado no ditador liberiano Charles Taylor, um rebelde que participou do assassinato do ditador Samuel Doe no início dos anos 90 e que, alçado ao poder na Libéria, adotou as mesmas práticas sanguinárias de seu antecessor. Num próximo post, Senhor das Armas - Parte 2, continuará a análise do filme, centrada em dois assuntos que são introduzidos no filme pelo personagem inspirado em Taylor, os quais dizem respeito aos exércitos infantis e, posteriormente, aos chamados “diamantes de sangue”.



 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Rambo - O pior pesadelo dos soviéticos

   O filme "Rambo 3" faz parte de uma série ou, devido ao sucesso obtido, podemos falar até de uma saga do personagem fictício, o norte-americano John Rambo. Nos dois primeiros filmes, além das muitas cenas de ação e munições desperdiçadas, é visível algum tipo de crítica intrínseca à condição dos EUA na Guerra do Vietnã. Em "Rambo 1", critica-se o tratamento dado aos veteranos do combate quando retornam para casa. Enquanto em "Rambo 2", apesar de toda a vilania ser colocada nos personagens soviéticos (que, de acordo com esse filme, estariam presentes fisicamente na Indochina), a critica coloca-se na posição dos EUA em relação aos seus soldados tornados prisioneiros no Vietnã, o que, na falta de uma melhor ação ou negociação do governo norte-americano, leva Rambo à resgatá-los. Feito o comentário sobre os filmes anteriores, podemos dizer que "Rambo 3" não traz crítica alguma aos EUA, tratando-se exatamente de uma peça de propaganda norte-americana e anti-soviética sobre a Guerra Fria. A partir da análise do contexto histórico, fica fácil de perceber isso, tendo sido o filme lançado em 1988; muito próximo, portanto, ao colapso do sistema socialista soviético. Na época, era interessante apresentar para o mundo a posição da URSS na guerra com o Afeganistão. Logo, que maneira melhor de expor isso do que colocando o personagem de Rambo como o vitorioso do conflito?!
   John Rambo, a arma de destruição em massa, ajudando os afegãos.
   Tomando o filme por verdade, entenderíamos que foi John Rambo, com seu poderio comparado ao de uma arma de destruição em massa, que levou a URSS ao colapso e não a concorrência com o capitalismo e os próprios erros da política soviética. Assim, é interessante falar de Rambo 3 como um apontamento ao equivalente soviético da Guerra do Vietnã, ou seja, a Guerra do Afeganistão (1979-1989), que foi vencida não apenas por um homem, mas sim pelos mujahideen[1] afegãos, os quais contaram com o apoio técnico-militar dos norte-americanos, que investiram cerca de 1 bilhão de dólares em armas financiando o conflito (investimento que foi equiparado pelos sauditas, parceiros dos norte-americanos, que também temiam uma vitória soviética na região). Foi com esse apoio financeiro que os afegãos conseguiram vencer os soviéticos e, dessa maneira, aplicar um duro golpe na estratégia soviética para a Guerra Fria. Não podemos deixar de falar que caberia muito bem no filme que um dos personagens da milícia afegã, que luta ao lado de Rambo, fosse chamado de Osama Bin Laden, um dos líderes militares que expulsou os soviéticos com a ajuda dos armamentos fornecidos pelos EUA e, posteriormente, voltou-se contra os próprios norte-americanos. Se em 1988 (ano de produção do filme) o indestrutível soldado do Tio Sam ia até o Afeganistão para salvar o sofrido povo daquele país da tirania dos sanguinários soviéticos, o mesmo Rambo, pós 11 de setembro, estaria lá jogando bombas e mísseis sobre aquelas pessoas, exatamente como faziam os vilões comunistas. Assim, sobrou para Bin Laden e os afegãos, defender-se utilizando o antigo material bélico dos EUA, nesse conflito, que se estende desde 2001 com a invasão dos norte-americanos ao outrora aliado Afeganistão.
[1] Guerreiros santos mulçumanos
 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Che - O Ícone

   O primeiro filme de 2009 sobre Ernesto Guevara, intitulado “Che – O Argentino”, não consegue vencer uma tarefa impossível: chamar a atenção como um produto de Che. Lembremos que o filme não ganhou grande destaque nas mídias e também não agradou muito os críticos. Apesar da grande atuação de Benício Del Toro vivendo o personagem principal e da boa produção do diretor Steven Soderbergh, o máximo que podemos dizer do filme é que se trata de uma boa representação da figura de Che e da Revolução Cubana com claras preocupações históricas. A questão é que o tamanho do ícone que se transformou a figura de Che é muito maior do que qualquer filme poderia ser. A recorrência da imagem de Che de boina é tão grande que o próprio pôster do filme teve de buscar ser mais original para se distanciar do ícone (vide imagem). Estamos acostumados a ver aquele rosto de Che em camisetas, bandeiras, bottoms, tatuado no braço do Maradona e até estampado em um biquíni na bunda da Gisele Bündchen, e sabemos que aquela imagem é sinônimo de esperança e das melhores virtudes do homem latino-americano, ou seja, o ícone Che estrapola qualquer filme feito sobre ele. Mas agora, tratando do que o filme pode ser. Essa é a primeira parte de dois filmes onde a ênfase fica no papel de Che durante a luta guerrilheira na Revolução Cubana (onde vemos desde o Che disparando bazucas até lavando a louça), sendo aqui que reside a grande qualidade do filme, visto que é fácil falar de guerrilha e escrever sobre uma, mas apresentar a guerrilha cubana é outra coisa e o filme cumpre esse papel muito bem. Assim, entendemos como menos de cem guerrilheiros que adentram a região montanhosa de Cuba, a Sierra Maestra (1957), conseguem derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista do poder em Havana. No papel de espectador, seguindo as funções de Che na guerrilha, percebemos como os camponeses cubanos super-explorados pelos latifundiários e constantemente assolados pelo exército de Batista simpatizam e aderem à luta armada imposta pela guerrilha. O confronto constante dos revolucionários através de ataques e saques às tropas de Batista foram importantes, mas tão mais foi a preocupação em treinar e educar a população que aderia à Revolução.
    O papel de Che nessa guerrilha é enorme, indo de médico, professor e doutrinador até guerrilheiro , além de aparecer constantemente sabendo acatar as ordens que lhe são passadas por seus companheiros (não aparecendo como um herói que faz tudo sozinho e tem todas as idéias para tornar a revolução vitoriosa). Mas e o Fidel, hein, não aparece? Sim, ele entra na maioria das vezes em cenas de acordos das direções que a guerrilha irá tomar e acaba aparecendo, muitas vezes, apenas como um político e um conselheiro de sábias palavras ao Che. Por isso, exatamente, que o título do filme não é Fidel, cumprindo, assim, seu papel de personagem coadjuvante. Então, voltando ao Che, é interessante salientar que, além da guerrilha, o filme é intercalado com cenas em preto e branco em que Che (já vitorioso na Revolução Cubana), está nos EUA para discursar no congresso das Nações Unidas. Os protestos feitos contra Che e sua presença em solo norte-americano servem para entendermos a importância da Revolução Cubana e até seus efeitos sobre a posição imperialista do governo norte-americano. Após a vitória de Che e seus companheiros em 1959, a Revolução Cubana tornou-se um fantasma para os EUA, e assim os norte-americanos passaram a intervir diretamente na América Latina apoiando ditaduras militares e orquestrando golpes de Estado. Além disso, na Ásia, tentaram (sem êxito) subjugar a população do Vietnã. E é exatamente pela figura de Che representar a resistência a esse imperialismo ianque vigente, sobretudo na Guerra Fria, que aquela imagem tornou-se ícone da bravura e luta. Luta essa que aparece no filme, mas que não vai além como o ícone de Che faz...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A piada que ganhou a 2ª Guerra

   O grupo de comédia britânico Monty Python, fez muito sucesso, sobretudo, nos anos 70 e 80. Esses comediantes ficaram notórios, por seu senso de sarcasmo e tom jocoso, com que tratavam assuntos delicados do cotidiano dos ingleses e do mundo. Posso afirmar, que  não foi diferente, tratando-se de 2ª Guerra Mundial. Assim para desopilar um pouco, após o cansativo ENEM, e preparando para reta final do vestibular da UFRGS, recomendo que sigam o seguinte link para o youtube com o quadro - A Piada Mais Engraçada do Mundo: http://www.youtube.com/watch?v=AZgQinsClLQ
 
Vale lembrar que o grupo conquistou notoriedade mundial através dos filmes: "Em Busca do Cálice Sagrado" (1975), "A Vida de Brian" (1979), "O Sentido da Vida" (1983), entre outros, além de frequentes participações de seus membros nas mais diversas produções hollywoodianas. 
 
 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

The American Way for Brazil

   O Big Stick, grande porrete norte-americano, pegou mal na América Latina, principalmente devido às seguidas intervenções militares e direcionamentos políticos que os EUA impôs à América Central e ao Caribe nas três primeiras décadas do século XX. Os ianques, então, passaram para a Política da Boa Vizinhança (1933), pregando colaboração com os vizinhos latinos. Assim milhões de dólares norte-americanos afluíram ao continente e por consequência para o Brasil, sobretudo, em períodos de indecisão, como para afastar a propaganda nazista e angariar o apoio brasileiro na 2ª Guerra Mundial (1939-45). Naquele momento, o nosso país foi alvo de um bombardeio de mercadorias e de propaganda dos EUA. Essa parceria com o uncle Sam afirmaria-se mais ainda com o desenrolar da Guerra Fria e a necessidade dos norte-americanos de afastar o espectro comunista da terra tupiniquim. Nesse sentido, é importante relevar a importância do Birô Interamericano, orgão presidido por Nelson Rockefeller (milonário do petróleo norte-americano), que investia em campanhas políticas da UDN (partido reconhecido por sua postura entreguista ao capital internacional) e em produção cultural ligando os Eua ao Brasil. Foi no início dos anos 40 que o Brasil passou a figurar em hollywood, mas, infelizmente, através de uma figura deturpada, como a da mulher lasciva, que apenas samba e sorri e que, ao invés de cérebro, tem na cabeça um abacaxi - Carmem Miranda. A famosa cantora era o exemplo da cultura brasileira para o exterior. Mas a coisa fica pior... a Disney percebe que a Política de Boa Vizinhança pode lhe render novos mercados na América Latina e melhorar a imagem dos EUA por essas bandas, produzindo, então, o filme "Alô Amigos", o qual nos apresenta o personagem brazuca da Disney - Zé Carioca, o típico malandro carioca que chega a oferecer aquela bela cachaça ao Pato Donald. Ah! É óbvio que a pequena notável era muito mais que um abacaxi e samba no pé, mas pouco mais aparecia após passar pelo filtro hollywoodiano. Quanto ao Zé Carioca, sou um mega fã (lia todos os quadrinhos), mas é dose o único brasileiro da Disney ser um ladrão de jacas profissional...    
  

Confere aqui, no link do youtube, o encontro Donald e Zé Carioca:

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Outra perspectiva do Holocausto

"Um Homem Bom" (filme dirigido pelo brasileiro Vicente Amorin) apresenta a perseguição nazista aos judeus na Alemanha de uma forma interessante e, até pode se dizer, nova para o cinema. Diferentemente de filmes como "A Vida é Bela" e o "O Pianista", em que o personagem principal é um judeu tentando escapar das durezas da 2ª Guerra (de forma irreverente no primeiro filme e muito realista no segundo), "Um Homem Bom" conta a trajetória de um professor de literatura, John Halder, o qual, aparentemente, seria um homem digno e “de bem” (para não citar o título do filme) vivendo no período de ascensão do regime nazista na Alemanha. A perspectiva é de que Halder procurou manter-se distante do partido nazista o máximo que pode, até o momento em que um livro escrito por ele, tratando sobre o tema referente à eutanásia, é inscrito numa lista de apoio à propaganda do governo nazista. Logo vemos o personagem principal ser empurrado pela corrente de nacionalismo alemã e de prosperidade na profissão, havendo constantes promoções em sua carreira a partir do momento em que se filia ao partido nazista. Dessa maneira, o filme busca explicar como um alemão aparentemente coerente e com discernimento, como Halder, chega a se tornar membro da SS (Polícia Política Nazista[1]). Durante o filme, vemos Halder constantemente destratar a figura de Hitler e não apresentar nenhuma devoção ao nazismo ou à segregação dos judeus. Ele aparece dessa forma como o que poderia ter ocorrido com muitos alemães no período, os quais, não cientes de toda a extensão das ações do partido nazista e submetidos à ascensão social, tomavam parte no esforço de guerra alemão. Uma vez tomadas as decisões hierárquicas (de cima para baixo), tinham de se submeter a elas, ou seja, uma vez dentro da estrutura nazista, não poderiam mais discordar do regime totalitário, havendo o risco de sofrerem represálias. Até agora, sendo tudo isso descrito no texto, fica difícil de acreditar que vamos conseguir ter simpatia por esse tal homem bom, que, afinal de contas, era um nazista. Então, entra o efeito do cinema, o qual apresenta cenas em que, na maioria das vezes, concordaríamos com as ações tomadas por Halder, que é quase sempre colocado contra a parede se discordasse dos elogios feitos a ele e à sua obra literária, sendo esses elogios feitos pelos oficiais nazistas que o promovem. Destaque, também, para o fato do personagem principal aguentar, pelo menos, até a metade do filme, uma esposa neurótica e uma mãe demente (possivelmente sofrendo de alzheimer), tendo que cuidar de seus filhos quase que sozinho. Resumindo, o homem era um “santo”, que foi cooptado pelo regime nazista e que tinha um amigo judeu, ainda por cima. Surpreso com a amizade com um judeu? É, eu não podia entregar tudo do filme aqui, porque, afinal de contas, quero que vocês assistam. Assim, fica a dica: prestem atenção na relação entre Halder e seu amigo judeu - Maurice.

[1] O cargo que assume, inicialmente, é mais uma posição simbólica, visto que a SS buscava ter homens letrados e de prestígio em suas fileiras.




terça-feira, 9 de outubro de 2012

ANPUH repudia o artigo da Revista Veja sobre Eric Hobsbawm


   Apesar do espaço do blog ser reservado para material voltado ao vestibular, nesse momento, me vejo obrigado a trancrever a carta aberta da Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) à Revista Veja. A carta é uma resposta, aos absurdos publicados pela Revista Veja, em relação ao recentemente falecido historiador Eric Hobsbawm. Vale lembrar que isso é uma tradição da revista, a qual não muito tempo atrás, atacou até mesmo, o pai da educação brasileira Paulo Freire.



Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do século XX
   Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um “acadêmico”, no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do “intelectual” como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
  
   Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de “idiota moral”(cf. o texto “A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm”, publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto “historiador esquerdista”, dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a “análise” acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.

São Paulo, 05 de outubro de 2012

Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Recuo no Front



  Stanley Kubrick, diretor dos clássicos "2001 - Uma Odisséia No Espaço", "Laranja Mecânica" e "Nascido Para Matar", não ficou imune à censura francesa no início de sua carreira ao contar a história daqueles que se recusaram a lutar durante a 1ª Guerra Mundial. "Glória Feita de Sangue", de 1957, retratou o cruel destino dos soldados franceses que recuaram no campo de batalha ou que, simplesmente, não cumpriram "ordens suicidas" de seus oficiais superiores. Apesar da deserção militar ser normalmente associada aos russos, que após a Revolução Russa (1917) abandonaram o conflito assinando um armísticio com os alemães, o fenômeno da deserção foi bastante comum entre as tropas de todos os países envolvidos na guerra. Num campo de batalha tão duradouro, como fora o caso das trincheiras européias, era natural que os soldados desobedecessem ordens e fugissem dos combates e horrorres do conflito. Uma das poucas coisas que continuavam mantendo o moral das tropas era a irmandade entre os soldados; com o passar do tempo, no entanto, os batalhões tinham de se reconfigurar totalmente devido às suas perdas. Imagine um soldado, que foi sobrevivendo aos seguidos embates e, à medida que a guerra se prolongava, não encontrava mais seus antigos colegas ao seu lado, apenas novos recrutas e novas ordens de seus superiores. A guerra ia perdendo seu sentido até mesmo para as lideranças das nações envolvidas. Então, nada mais natural que o aumento das deserções no campo de batalha. As punições foram severas, a cadeia era o destino mais comum dos foragidos, mas, as vezes, o destino era pior...
 
Link para o YouTube, trecho (10min) do filme "Glória Feita de Sangue", com o julgamento e execução de soldados franceses acusados de deserção e covardia: http://www.youtube.com/watch?v=x-5a-gn80pQ
Kirk Douglas foi o "ator conhecido", que catapultou o projeto de Kubrick, "Glória Feita de Sangue", o qual fora, antes, recusado por quase todos os estúdios de hollywood.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A expansão dos EUA em perspectiva

  Após a sua independência, as 13 colônias norte-americanas protagonizaram um processo de expansão territorial, e alguns fatores contribuíram para esse processo. A famosa "gold rush" (corrida do ouro) em direção ao "far west" (oeste distante), iniciada em 1848, estimulou a colonização de áreas antes ocupadas pelos nativos americanos. É a velha histórinha dos cowboys e índigenas, que hollywood tanto reproduziu no cinema. O faroeste norte-americano foi um dos gêneros mais importantes na consagração da indústria fílmica nos EUA do ínicio do século XX e demonstrou, de uma perspectiva heroíca, a ação colonizadora, a qual teve, na sua realidade, um lado cruel e genocida para com os índios. Outro fator importante para a configuração do mapa norte-americano foi a Crise do Antigo Sistema Colonial, ou seja, a decadência das monarquias européias e as consequentes dificuldades na exploração de áreas da América do Norte, o que proporcionou a oportunidade de aquisição de territórios através da negociação. Assim, foram anexados a Louisiana (dos franceses), a Flórida (dos espanhóis) e Oregon (dos ingleses),  tendo sido todas essas áreas compradas. Além disso, a orientação política federalista (autonomia concedida aos estados)  também foi uma moeda atraente para a anexação de terras à causa norte-americana. Dessa forma, fazendeiros do sul  foram estimulados à conquista de territórios pertencentes ao México, com a promessa de proteção por parte da união norte-americana. Logo os territórios do Texas e da Califórnia foram os alvos, os quais foram tomados à base da bala de seus proprietários mexicanos. Os fazendeiros vitoriosos pagariam, agora, impostos ao governo dos EUA, garantindo a negociação dessas áreas junto ao México, e ainda desfrutariam do pacto federalista, que lhes permitia plena autoridade nos destinos da região. Por último, os EUA, através do Homestead Act (1862), garantiu a chegada de grandes massas imigratórias, havendo uma lei que garantia a posse da terra a quem a cultivasse por um período de 5 anos. A partir daí, quem chegava nos EUA acenava com a possibilidade de possuir terras, desde que pudesse protegê-las. O filme de "Farvestão", que o teu pai ou avô assistia, tá fazendo cada vez mais sentido, né? Índios, colonos europeus, o governo, o desenvolvimento das cidades, a construção de ferrovias (com mão de obra imigrante chinesa) foram, todos, elementos que se confudiam e se completavam na construção do Estado norte-americano. Imperava a lei do gatilho. Ok, ficou muito cafona...melhor: a lei do mais forte.
 

      Mapa da expansão.
 
Link para o clipe Run To The Hills, da banda Iron Maiden, um retrato metal "oitentera" da situação índigena no século XIX: http://www.youtube.com/watch?v=ww1srGqQPug 


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

2º Reinado em Quadrinhos

A publicação "Cai o Império! República Vou Ver!" do cartunista Angeli e da pesquisadora Lilia Moritz Schwarcz é um exemplo de leitura descontraída. Porque o estudo de História não precisa ser sempre massante e a UFRGS curte um quadrinho...
Algumas pérolas do livro:

A Imigração e o Sistema de Parceira


A Migração do Eixo Econômico no Plantio de Café

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Brasil Império nas provas da UFRGS

Brasil Império inclue os conteúdos de 1º Reinado, Regência e 2º Reinado. As últimas provas da UFRGS tem variado entre 3 e 4 questões sobre o assunto. A seguir um mini-simulado com as mais recentes questões.
 
1 – O cargo de juiz de paz teve suas funções regulamentadas pelo Código de Processo Criminal de 1832. Esses juízes representavam o liberalismo brasileiro durante o período regencial.
Esses magistrados eram
(A) nomeados diretamente pelo Imperador, exercendo as funções de chefe de polícia.
(B) designados diretamente pelo ministro da Justiça, exercendo as funções de promotor público.
(C) eleitos pelos cidadãos para exercer funções conciliatórias e de qualificação eleitoral.
(D) eleitos pelos deputados gerais para administrar os bens dos orfãos e de pessoas ausentes.
(E) indicados pelo presidente provincial para pacificar os conflitos de terra.
 
2- Leia o texto abaixo.
Conheça o Brasil que o dia 20 de setembro de 1835 foi a consequência inevitável de uma má e odiosa administração; e que não tivemos outro objeto, e não nos propusemos a outro fim que restaurar o império da lei, afastando de nós um administrador inepto e faccioso, sustentando o trono constitucional do nosso jovem monarca e a integridade do Império (Manifesto de 25 de setembro de 1835)
Em relação ao manifesto acima, é correto afirmar que
(A) os farroupilhas defendiam, desde o primeiro momento, o ideário republicano e separatista.
(B) os revoltosos desejavam antecipar a posse de D. Pedro II, ainda menor de idade.
(C) a revolta foi motivada pelo desejo dos farroupilhas de reintegrar a provincia ao Império brasileiro.
(D) os revoltosos estavam contrariados com o governo do presidente provincial.
(E) os farroupilhas representavam os ideais conservadores, manifesto na defesa do “império da lei”.
 
3- A respeito da Revolta do Malês, ocorrida na cidade de Salvador em 1835, é correto afirmar que ela foi um movimento liderado por
(A) escravos oriundos da África Oriental, inspirados na independência do Haiti.
(B) escravos e libertos, que professavam a religião mulçumana.
(C) escravos nascidos no Brasil e grupos excluídos do processo político-partidário.
(D) escravos e índios aldeados no Recôncavo, que protestavam contra exploração.
(E) populares que se inspiraram na Revolta dos Alfaiates.
 
4- A Lei nº 581 do Império do Brasil, também denominada de Lei Eusébio de Queiróz, foi promulgada em 4 de setembro de 1850.
Essa lei
(A) provocou o confisco dos escravos ilegais, reprimindo e condenando duramente os senhores de escravos.
(B) determinou que os traficantes fossem submetidos à jurisdição de um tribunal especial.
(C) suspendeu por alguns anos o tráfico transatlântico de escravos, que foi retomado nas décadas seguintes.
(D) obrigou os donos de escravos a indenizarem os africanos que ingressaram no Brasil a partir de 1808.
(E) regulamentou o tráfico de escravos, permitindo que apenas africanos do sul do continente pudessem ser trazidos da África.
 
5- No Segundo Reinado, foram propostas medidas destinadas a restabelecer a centralização política do Império.
No bloco superior, abaixo, são citadas cinco medidas legais implementadas no período; no inferior, os objetivos pretendidos com a aplicação de três delas.
Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.
 
1 – Lei de Interpretação do Ato Adicional
2 – Recriação do Conselho de Estado
3 – Reforma do Código de Processo Criminal
4 – Criação do cargo de presidente do Conselho de Ministros
5 – Reforma da Gurada Nacional
 
(  ) Esvaziamento dos poderes dos juízes de paz eleitos localmente
( ) Anulação de algumas atribuições das Assembleias provinciais.
(  ) Subordinação do oficialato ao Ministério da Justiça
 
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
(A) 2-5-4.
(B) 3-1-5.
(C) 1-4-3.
(D) 2-1-4.
(E) 3-4-5.
 
6 – Considere o enunciado abaixo e as quatro propostas para completá-lo.
 
Durante o século XIX, as relações entre Brasil e Inglaterra foram marcadas por diversos momentos de tensão. A denominada Questão Christie levaria ao rompimento diplomático entre os dois países em 1863.
Entre as causas que motivaram o desgaste e a ruptura diplomática, é correto citar
 
1-     a negativa de renovação dos tratados comerciais que beneficiavam a Inglaterra.
2-     a manutenção das relações econômicas com os Estados Unidos.
3-     a participação brasileira na intervenção contra o governo colorado no Uruguai.
4-     o naufrágio do navio inglês Prince of Wales no litoral do Rio Grande do Sul.
 
Quais propostas estão corretas?
(A) Apenas 1.
(B) Apenas 2.
(C) Apenas 1 e 3.
(D) Apenas 1 e 4.
(E) Apenas 2, 3 e 4.
 
7 – Leia o texto a seguir.
No dia 11 de abril de 1852, domingo, um navio vindo da África encalha no litoral norte do Rio Grande do Sul, na região da praia de Tramandaí [...] Percebendo ter sido vítima desse traiçoeiro litoral, o capitão desampara o navio e põe-se a desembarcar a valiosa carga humana composta de diversos africanos que, em breve, seriam vendidos como escravos na região de Conceição do Arroio e nos Campos de Cima da Serra.
 
O desembarque clandestino de escravos, mencionado nesse trecho, poderia ser considerado ilegal, pois
(A) infrigia as disposições da Lei de Terras, que proibiam o tráfico de africanos para o Brasil.
(B) contrariava a Lei Eusébio de Queiróz, que proibiu definitivamente o tráfico de escravos para o Brasil.
(C) desrespeitava artigos da Lei Saraiva-Cotegipe, que impedia o tráfico no litoral.
(D) contrariava o diposto na Lei Áuera, que previa a extinção da escravidão no Brasil.
(E) infringia a lei provincial que proibia o desembarque de escravos no Rio Grande do Sul.

 
GABARITO:
1.C.
2.D.
3.B.
4.B.
5.B.
6.D.
7.B.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PROCURA-SE RACIONAIS & MARIGHELLA

   Há dez anos sem publicar novos discos, os Racionais MC's retornam em grande estilo com o clipe "Mil Faces de Um Homem Leal", homenageando o guerrilheiro tombado pela ditadura, Carlos Marighella (1911-1969). A música centra-se no episódio de 1969 em que a ALN (Ação Libertadora Nacional) invadiu a Radio Nacional para transmitir uma mensagem revolucionária. Tal ato seria mais um dos muitos realizados por Marighella em nome da liberdade e em favor do Brasil, os quais logo ganhariam a alcunha de "atos subversivos" ou "terroristas" por parte das autoridades. Procura-se foi a palavra mais comum de se achar em prelúdio ao nome de Marighella ao longo de sua vida. Preso ínumeras vezes por sua atividade ligada ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), ao qual se afiliou ainda em 1932, o militante passou boa parte da sua juventude organizando a esquerda brasileira por de trás das grades. Contudo, foi apenas depois do fim do Estado Novo Varguista, em 1945, e com a Anistia, que o PCB foi à legalidade, conseguindo Marighella ser eleito como um dos deputados constituintes mais votados da esquerda. No entanto, já em 1948, os parlamentares comunistas teriam seus mandatos cassados, fazendo com que Marighella voltasse à clandestinidade. As turbulências políticas que o Brasil viveu a partir de então culminariam no Golpe Militar de 1964.
   No mesmo ano do golpe, Marighella foi localizado por agentes do DOPS (braço policial da Ditadura contra os movimentos sociais) num cinema do bairro da Tijuca, RJ. Lá, ele enfrentou os policiais que o cercavam através de socos e gritos de “Abaixo a ditadura” e “Viva a democracia”, recebendo um tiro, à queima-roupa, no peito. Descrevendo o episódio no livro “Por que resisti à prisão”, ele afirmaria: “Minha força vinha, mesmo, era da convicção política, da certeza (...) de que a liberdade não se defende senão resistindo”. Os militares soltariam-no 80 dias depois, após uma comoção nacional em torno do seu habeas-corpus, tendo sido verificada a violência usada em sua prisão. Livre, mas identificado como um dos principais alvos pelos militares, Marighella, crítico da linha moderada do PCB, rompe com o partido em 1967 e funda a ALN (Ação Libertadora Nacional), dando início à luta armada contra a Ditadura. Nesse período, ele escreve seu livro mais conhecido, "Manual da Guerrilha Urbana", projetando a sustentação da ALN através de ações armadas e reapropriações em nome da democracia. A resposta do Regime Militar ao crescimento da oposição, então, foi fechar o cerco sobre os revolucionários através do AI-5. O Ato Institucional nº5 deu poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente aqueles que fossem inimigos do regime ou como tal considerados. Assim, mesmo com um "grande alvo nas costas", Marighella continuou a lutar pelo fim da Ditadura, terminando, infelizmente, assassinado em emboscada (1969) pelos inimigos do povo brasileiro. Lembrado como um dos principais militantes da esquerda no Brasil, a memória de Carlos Marighella pode contar, agora, com mais essa homenagem.

Link para o YouTube de "Mil Faces de Um Homem Leal", clipe dos Racionais MC's: http://www.youtube.com/watch?v=ajrI1FldJ8E


       

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Beethoven e a Desilusão Napoleônica

   Ludwig Van Beethoven (1770-1827), compositor alemão, viveu sua juventude as vésperas da Era Napoleônica (1799-1815). Em Viena (Áustria) durante a Revolução Francesa, esse grande músico entrou em contato com o ideario iluminista. A vanguarda do pensamento iluminista, crítica do Antigo Regime e do iletrismo da sociedades européias, contagiou e inspirou a obra musical de Beethoven. Assim os ideais da Revolução Francesa romperam as fronteiras territorias e atingiram em cheio um dos grandes artistas da época. E não parou por aí, mesmo com fim da Revolução, com o Golpe do 18 Brumário e a ascensão da figura de Napoleão, a França pregava continuidade e extensão da Revolução.
   O expansionismo militar de Napoleão se ancorava nas propostas de libertação para os povos ainda submetidos ao absolutismo. Eram os gritos de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que sustentavam a invasão das tropas napoleônicas de nações como Espanha e Portugal. Beethoven, assim como muitos outros, inicialmente acreditaram estar vendo na ação de Napoleão a força e o impeto iluministas agindo em favor da libertação dos povos. No entanto, trataria-se de uma grande desilusão, logo Napoleão teria coragem de se auto-coroar imperador da França e mais, entregaria o comando das coroas derrubadas por ele, aos seus familiares. Os territórios ocupados pela França, na Europa, perceberiam então, que apenas teriam trocados suas amarras absolutistas pelas napoleônicas, iniciando uma luta nacionalista de libertação. Desiludido Beethoven, que teria escrito sua Terceira Sinfonia em homenagem a Napoleão, era agora mais um a bradar contra exploração imposta pelos invasores franceses. O grande músico (mesmo que sofrendo de surdez) ainda viveria para ver as derrotas de Napoleão e avançar na composição de suas obras, cada vez mais ousadas e livres, portanto fora dos padrões acadêmicos convencionais de sua época.

Abaixo alguns links para YouTube interessantes:

Trecho da Nona Sinfonia, no filme "Minha Amada Imortal" (1994):

Outro trecho da Nona Sinfonia, no filme "O Segredo de Beethoven" (2006):

Livre interpretação da Nona Sinfonia, pela banda Deep Purple:

Beethoven inspirado.



Napoleão: Ta eaí não vai toca uma pra mim?