terça-feira, 30 de outubro de 2012

The American Way for Brazil

   O Big Stick, grande porrete norte-americano, pegou mal na América Latina, principalmente devido às seguidas intervenções militares e direcionamentos políticos que os EUA impôs à América Central e ao Caribe nas três primeiras décadas do século XX. Os ianques, então, passaram para a Política da Boa Vizinhança (1933), pregando colaboração com os vizinhos latinos. Assim milhões de dólares norte-americanos afluíram ao continente e por consequência para o Brasil, sobretudo, em períodos de indecisão, como para afastar a propaganda nazista e angariar o apoio brasileiro na 2ª Guerra Mundial (1939-45). Naquele momento, o nosso país foi alvo de um bombardeio de mercadorias e de propaganda dos EUA. Essa parceria com o uncle Sam afirmaria-se mais ainda com o desenrolar da Guerra Fria e a necessidade dos norte-americanos de afastar o espectro comunista da terra tupiniquim. Nesse sentido, é importante relevar a importância do Birô Interamericano, orgão presidido por Nelson Rockefeller (milonário do petróleo norte-americano), que investia em campanhas políticas da UDN (partido reconhecido por sua postura entreguista ao capital internacional) e em produção cultural ligando os Eua ao Brasil. Foi no início dos anos 40 que o Brasil passou a figurar em hollywood, mas, infelizmente, através de uma figura deturpada, como a da mulher lasciva, que apenas samba e sorri e que, ao invés de cérebro, tem na cabeça um abacaxi - Carmem Miranda. A famosa cantora era o exemplo da cultura brasileira para o exterior. Mas a coisa fica pior... a Disney percebe que a Política de Boa Vizinhança pode lhe render novos mercados na América Latina e melhorar a imagem dos EUA por essas bandas, produzindo, então, o filme "Alô Amigos", o qual nos apresenta o personagem brazuca da Disney - Zé Carioca, o típico malandro carioca que chega a oferecer aquela bela cachaça ao Pato Donald. Ah! É óbvio que a pequena notável era muito mais que um abacaxi e samba no pé, mas pouco mais aparecia após passar pelo filtro hollywoodiano. Quanto ao Zé Carioca, sou um mega fã (lia todos os quadrinhos), mas é dose o único brasileiro da Disney ser um ladrão de jacas profissional...    
  

Confere aqui, no link do youtube, o encontro Donald e Zé Carioca:

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Outra perspectiva do Holocausto

"Um Homem Bom" (filme dirigido pelo brasileiro Vicente Amorin) apresenta a perseguição nazista aos judeus na Alemanha de uma forma interessante e, até pode se dizer, nova para o cinema. Diferentemente de filmes como "A Vida é Bela" e o "O Pianista", em que o personagem principal é um judeu tentando escapar das durezas da 2ª Guerra (de forma irreverente no primeiro filme e muito realista no segundo), "Um Homem Bom" conta a trajetória de um professor de literatura, John Halder, o qual, aparentemente, seria um homem digno e “de bem” (para não citar o título do filme) vivendo no período de ascensão do regime nazista na Alemanha. A perspectiva é de que Halder procurou manter-se distante do partido nazista o máximo que pode, até o momento em que um livro escrito por ele, tratando sobre o tema referente à eutanásia, é inscrito numa lista de apoio à propaganda do governo nazista. Logo vemos o personagem principal ser empurrado pela corrente de nacionalismo alemã e de prosperidade na profissão, havendo constantes promoções em sua carreira a partir do momento em que se filia ao partido nazista. Dessa maneira, o filme busca explicar como um alemão aparentemente coerente e com discernimento, como Halder, chega a se tornar membro da SS (Polícia Política Nazista[1]). Durante o filme, vemos Halder constantemente destratar a figura de Hitler e não apresentar nenhuma devoção ao nazismo ou à segregação dos judeus. Ele aparece dessa forma como o que poderia ter ocorrido com muitos alemães no período, os quais, não cientes de toda a extensão das ações do partido nazista e submetidos à ascensão social, tomavam parte no esforço de guerra alemão. Uma vez tomadas as decisões hierárquicas (de cima para baixo), tinham de se submeter a elas, ou seja, uma vez dentro da estrutura nazista, não poderiam mais discordar do regime totalitário, havendo o risco de sofrerem represálias. Até agora, sendo tudo isso descrito no texto, fica difícil de acreditar que vamos conseguir ter simpatia por esse tal homem bom, que, afinal de contas, era um nazista. Então, entra o efeito do cinema, o qual apresenta cenas em que, na maioria das vezes, concordaríamos com as ações tomadas por Halder, que é quase sempre colocado contra a parede se discordasse dos elogios feitos a ele e à sua obra literária, sendo esses elogios feitos pelos oficiais nazistas que o promovem. Destaque, também, para o fato do personagem principal aguentar, pelo menos, até a metade do filme, uma esposa neurótica e uma mãe demente (possivelmente sofrendo de alzheimer), tendo que cuidar de seus filhos quase que sozinho. Resumindo, o homem era um “santo”, que foi cooptado pelo regime nazista e que tinha um amigo judeu, ainda por cima. Surpreso com a amizade com um judeu? É, eu não podia entregar tudo do filme aqui, porque, afinal de contas, quero que vocês assistam. Assim, fica a dica: prestem atenção na relação entre Halder e seu amigo judeu - Maurice.

[1] O cargo que assume, inicialmente, é mais uma posição simbólica, visto que a SS buscava ter homens letrados e de prestígio em suas fileiras.




terça-feira, 9 de outubro de 2012

ANPUH repudia o artigo da Revista Veja sobre Eric Hobsbawm


   Apesar do espaço do blog ser reservado para material voltado ao vestibular, nesse momento, me vejo obrigado a trancrever a carta aberta da Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) à Revista Veja. A carta é uma resposta, aos absurdos publicados pela Revista Veja, em relação ao recentemente falecido historiador Eric Hobsbawm. Vale lembrar que isso é uma tradição da revista, a qual não muito tempo atrás, atacou até mesmo, o pai da educação brasileira Paulo Freire.



Eric Hobsbawm: um dos maiores intelectuais do século XX
   Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um “acadêmico”, no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do “intelectual” como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
  
   Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de “idiota moral”(cf. o texto “A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm”, publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Veja desconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto “historiador esquerdista”, dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a “análise” acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.

São Paulo, 05 de outubro de 2012

Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Recuo no Front



  Stanley Kubrick, diretor dos clássicos "2001 - Uma Odisséia No Espaço", "Laranja Mecânica" e "Nascido Para Matar", não ficou imune à censura francesa no início de sua carreira ao contar a história daqueles que se recusaram a lutar durante a 1ª Guerra Mundial. "Glória Feita de Sangue", de 1957, retratou o cruel destino dos soldados franceses que recuaram no campo de batalha ou que, simplesmente, não cumpriram "ordens suicidas" de seus oficiais superiores. Apesar da deserção militar ser normalmente associada aos russos, que após a Revolução Russa (1917) abandonaram o conflito assinando um armísticio com os alemães, o fenômeno da deserção foi bastante comum entre as tropas de todos os países envolvidos na guerra. Num campo de batalha tão duradouro, como fora o caso das trincheiras européias, era natural que os soldados desobedecessem ordens e fugissem dos combates e horrorres do conflito. Uma das poucas coisas que continuavam mantendo o moral das tropas era a irmandade entre os soldados; com o passar do tempo, no entanto, os batalhões tinham de se reconfigurar totalmente devido às suas perdas. Imagine um soldado, que foi sobrevivendo aos seguidos embates e, à medida que a guerra se prolongava, não encontrava mais seus antigos colegas ao seu lado, apenas novos recrutas e novas ordens de seus superiores. A guerra ia perdendo seu sentido até mesmo para as lideranças das nações envolvidas. Então, nada mais natural que o aumento das deserções no campo de batalha. As punições foram severas, a cadeia era o destino mais comum dos foragidos, mas, as vezes, o destino era pior...
 
Link para o YouTube, trecho (10min) do filme "Glória Feita de Sangue", com o julgamento e execução de soldados franceses acusados de deserção e covardia: http://www.youtube.com/watch?v=x-5a-gn80pQ
Kirk Douglas foi o "ator conhecido", que catapultou o projeto de Kubrick, "Glória Feita de Sangue", o qual fora, antes, recusado por quase todos os estúdios de hollywood.