terça-feira, 10 de abril de 2012

Quando em Esparta...


   “300” é um filme norte-americano baseado na história em quadrinhos homônima de Frank Miller sobre a batalha de Termóplitas, que opôs gregos e persas no conflito mais amplo das Guerras Médicas. Um conflito que na proposta do filme se reduz ao enfrentamento Ocidente x Oriente. Vamos entender por que. O filme foi lançado em 2007, portanto a seis anos do início das incursões militares norte-americanas no Mundo Árabe (Oriente Médio), a invasão do Afeganistão começará em 2001 e a segunda invasão do Iraque em 2003[1]. Assim "300" (com orçamento de 60 milhões de dólares) aparece em forma de defender a presença norte-americana no Oriente. As pressões sobre o governo norte-americano tanto externas quanto internas quanto a legitimidade dos EUA em suas invasões ao Mundo Árabe crescia muito, devido tanto ao fracasso na captura de Osama Bin Laden, quanto a falha em encontrar armas de destruição em massa no Iraque e ligações entre o governo iraquiano e a Al Qaeda (grupo terrorista liderado por Bin Laden, responsável pelos atentados de 11/9 nos EUA). As justificativas do presidente George Bush filho já não encontravam mais acolhidas junto aos norte-americanos e o resto do mundo e as verdadeiras razões, essas econômicas[2], para os conflitos começavam a ficar evidentes.
    O filme cai como uma luva aos interesses dos EUA, mas por quê? “300” coloca claramente os gregos (defensores de um mundo livre) em oposição aos persas (representantes de um mundo escravizador). Ocidente x Oriente... Gregos x Persas... EUA x Mundo Árabe. Dessa forma deturpa a história dos acontecimentos, que resultaram na lenda dos 300 de Esparta. História dos guerreiros, oriundos de uma sociedade militarizada e escravista (portanto difícil de entender a ideia de defensora de um mundo livre) formados na cidade-estado grega de Esparta, que defenderam corajosamente o Mundo Grego (formador das concepções de Ocidente, através de sua cultura humanista e formação do pensamento filosófico) das invasões dos povos persas, sob domínio do rei Xerxes. Os quadrinhos de Frank Miller em que o filme se baseia foram bem concebidos em sua transposição ao cinema, mas o que não podemos deixar de observar é o caráter que o filme quer passar em que o Ocidente representa apenas virtudes e excelências, enquanto o Oriente representa tudo aquilo de mal possível: aberrações, monstros, cobiça, maldade, perversão, dentre muitas outras características negativas que o filme procura apresentar. O filme assim procura legitimar a ainda atual ação invasora dos EUA no Oriente Médio, caracterizando os orientais a uma forma bestial e aproximando as características dos espartanos aos dos soldados norte-americanos.
   “Vacinados” podemos agora falar sobre a lenda dos 300, ela se baseia na atuação dos guerreiros espartanos no início das invasões persas a Grécia. Os militares de Esparta, obviamente em número maior que 300, mas sobrepostos em números pelos persas, protagonizaram uma defesa inicial contra a invasão persa, para que então as cidades-estado gregas conseguissem organizar seus exércitos e aderissem ao conflito junto aos espartanos e mais importante tivessem condições de organizar uma frota naval para sobrepor os persas (visto que a Grécia geograficamente trata-se de um conjunto de ilhas no Mar Egeu os conflitos marítimos tiveram importância decisiva). Voltando para o filme percebemos a vocação guerreira de Esparta, que ao lado de Atenas constituíam-se nas principais cidades-estado gregas. As duas tiveram origens comuns de povos indo-europeus (Jônios-Atenas/Dórios-Esparta) e suas sociedades se organizavam de forma parecida, dominadas por oligarquias (governo de poucos) e estabelecidas no sistema escravista.
   As pricipais cidades-estado gregas acabaram por se diferenciar Esparta, adotou uma vocação guerreira (vista no filme) em forma a manter o domínio e os privilégios de uma aristocracia/nobreza sobre um crescente número de escravos (inclusive através de massacres). Já Atenas, terminaria por desenvolver a democracia, visto que por sua vocação marítima desenvolveu uma classe mercantil, essa excluída do processo político foi sendo incorporada aos órgãos representativos das decisões da cidade-estado frente às pressões que fazia sobre a aristocracia/nobreza de Atenas, terminando por desenvolver a democracia para os cidadãos atenienses[3]. Mas deixando a “aula” de história de lado. Por último cabe concluir que podemos perceber que “300” nos serve muito mais para que criemos um olhar crítico sobre cinema e seus usos do que necessariamente como um assistente ao conteúdo da Grécia Antiga. Eu particularmente gosto de 300 (não muito viu) e de seus clichês hollywoodianos, eles inclusive renderam um filme paródia os “Espartalhões”, mas acho que já da para rir bastante com a rainha “biba”... ops rei Xerxes e algumas cenas não sangrentas do filme.

[1] A primeira ocorrerá em 1990, ainda na administração do presidente George Bush pai, na chamada Guerra do Golfo.
[2] Interesse nas reservas petrolíferas iraquianas e em movimentar a indústria de armamentos norte-americana, tão necessária a estrutura econômica dos EUA.
[3] Cidadão ateniense era apenas homem maior de 18 anos, filho de pai e mãe ateniense. Os estrangeiros (metecos) e os escravos, não eram considerados cidadãos. Também as mulheres e crianças ficavam à margem, consideradas como parte do corpo cívico da polis, sem gozar de direitos políticos (cidadania). Portanto, a comunidade da polis clássica, independentemente de como se dividiu internamente, ergueu-se sobre uma maioria excluída de participação política.

5 comentários:

  1. Esses americanos. Boa análise!

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  2. Curti a análise, porém 300 foi lançado em 2006 :D . Divida o texto em parágrafos, fica melhor pra ler

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  3. "Anônimo" minhas fontes indicam que o filme é de 2007 (revisei), ele pode até ter sido produzido em 2006, mas foi lançado em 2007. Quanto aos textos, realmente fica melhor com parágrafos, no futuro quando forem textos maiores (como o do 300) utilizarei com certeza. Não usava os parágrafos justamente para manter a ideia de um texto curto.

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  4. Texto devidamente revisado. Agora com parágrafos!!!

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