Alguém
poderia dizer, logo de cara, que o filme “Maria Antonieta" é um nonsense
histórico, afinal o figurino é exagerado para época perfazendo todo o
arco-íris; os bailes da corte francesa, obviamente, não eram embalados por
Strokes e The Cure; apenas a nobreza francesa é representada, onde estariam as
outras classes sociais? E a crítica das críticas: não existiam tênis All Star.
Ok, mas esqueceram que, se fossem as opções diferentes, ou seja, obedecendo
supostas regras para um filme de época, o produto final seria ainda tão
fictício quanto o "Maria Antonieta" da diretora Sofia Coppola. Então,
o mérito dessa produção de 2005 reside no descaso, que trata aquilo que outros
filmes que abordam temáticas históricas de época tanto se preocupam: a busca do
como foi. Menos preocupado com um retrato histórico acurado, e sim em
demonstrar a personalidade e as relações da personagem-título "Maria
Antonieta", o filme termina por nos prestar um ótimo serviço para o estudo
histórico. Ao centrar-se na vida de Antonieta dentro da corte francesa,
percebemos o completo estado de alienação em que viviam tanto o casal real,
quanto os nobres que os cercavam em Versalhes. O povo francês que não aparece
no filme, a não ser em uma cena final de forma estilizada, passava por imensas
privações e dificuldades, e, ao escolher não representá-los, a diretora está
quase nos dizendo "vejam que Maria Antonieta e a nobreza da França estavam
completamente alheios às necessidades desses franceses, que sustentavam a vida
de fausto da corte".
O filme segue, assim, a trajetória da última
rainha francesa, desde sua saída da Áustria até o exílio forçado da família
real, aguardando o julgamento pelos revolucionários franceses. Fica a forte
impressão de que a vida de festas, jogos, compras e desinibição terminaram por
selar o destino da monarquia francesa. Os gastos excessivos da rainha não eram
nada se fossem comparados aos gastos com guerras (lembrando, também, o custo
humano) que a França envolveu-se durante o século XVIII, inclusive, contrariando
seu status de metrópole, chegou a apoiar a luta pela independência dos EUA.
Dessa forma, o absolutismo francês, seguindo uma herança da centralização de
Luís XIV, trilhou um caminho quase que irreversível de exploração social
demasiada. Igreja e nobreza se apoderavam dos impostos do 3º Estado
(camponeses, sansculottes e
burgueses) e os usavam ao bel prazer. A rainha e a nobreza até puderam viver
bons anos num ritmo de "curtindo a vida adoidado", mas o resultado
final foi a Revolução e o triunfo do espirito iluminista. Portanto, vale a pena
o filme para ver como "teria sido" essa curtição, regada a
rock'n'roll, muita champagne e os famosos brioches da Antonieta.
Kirsten Dust, no melhor estilo rainha cahorra.
O polêmico All Star.
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