O primeiro filme de 2009 sobre Ernesto Guevara, intitulado “Che – O Argentino”,
não consegue vencer uma tarefa impossível: chamar a atenção como um produto de
Che. Lembremos que o filme não ganhou grande destaque nas mídias e também não agradou muito os críticos. Apesar da grande atuação de Benício Del Toro vivendo o personagem
principal e da boa produção do diretor Steven Soderbergh, o máximo que podemos
dizer do filme é que se trata de uma boa representação da figura de Che e da
Revolução Cubana com claras preocupações históricas. A questão é que o tamanho
do ícone que se transformou a figura de Che é muito maior do que qualquer filme
poderia ser. A recorrência da imagem de Che de boina é tão grande que o próprio
pôster do filme teve de buscar ser mais original para se distanciar do ícone
(vide imagem). Estamos acostumados a ver aquele rosto de Che em camisetas,
bandeiras, bottoms, tatuado no braço do Maradona e até estampado em um biquíni
na bunda da Gisele Bündchen, e sabemos que aquela imagem é sinônimo de
esperança e das melhores virtudes do homem latino-americano, ou seja, o ícone Che estrapola qualquer filme feito sobre ele.
Mas agora, tratando do que o filme pode ser. Essa é a primeira parte de dois
filmes onde a ênfase fica no papel de Che durante a luta guerrilheira na
Revolução Cubana (onde vemos desde o Che disparando bazucas até lavando a louça),
sendo aqui que reside a grande qualidade do filme, visto que é fácil falar de
guerrilha e escrever sobre uma, mas apresentar a guerrilha cubana é outra coisa
e o filme cumpre esse papel muito bem. Assim, entendemos como menos de cem
guerrilheiros que adentram a região montanhosa de Cuba, a Sierra Maestra
(1957), conseguem derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista do poder em Havana.
No papel de espectador, seguindo as funções de Che na guerrilha, percebemos como os
camponeses cubanos super-explorados pelos latifundiários e constantemente
assolados pelo exército de Batista simpatizam e aderem à luta armada imposta
pela guerrilha. O confronto constante dos revolucionários através de ataques e
saques às tropas de Batista foram importantes, mas tão mais foi a preocupação
em treinar e educar a população que aderia à Revolução.
O papel de Che nessa
guerrilha é enorme, indo de médico, professor e doutrinador até guerrilheiro ,
além de aparecer constantemente sabendo acatar as ordens que lhe são passadas
por seus companheiros (não aparecendo como um herói que faz tudo sozinho e tem
todas as idéias para tornar a revolução vitoriosa). Mas e o Fidel,
hein, não aparece? Sim, ele entra na maioria das vezes em cenas de acordos das
direções que a guerrilha irá tomar e acaba aparecendo, muitas vezes, apenas
como um político e um conselheiro de sábias palavras ao Che. Por
isso, exatamente, que o título do filme não é Fidel, cumprindo, assim, seu papel de
personagem coadjuvante. Então, voltando ao Che, é interessante salientar que,
além da guerrilha, o filme é intercalado com cenas em preto e branco em que Che
(já vitorioso na Revolução Cubana), está nos EUA para discursar no congresso
das Nações Unidas. Os protestos feitos contra Che e sua presença em solo
norte-americano servem para entendermos a importância da Revolução Cubana e até
seus efeitos sobre a posição imperialista do governo norte-americano. Após a
vitória de Che e seus companheiros em 1959, a Revolução Cubana tornou-se um
fantasma para os EUA, e assim os norte-americanos passaram a intervir
diretamente na América Latina apoiando ditaduras militares e orquestrando
golpes de Estado. Além disso, na Ásia, tentaram (sem êxito) subjugar a
população do Vietnã. E é exatamente pela figura de Che representar a
resistência a esse imperialismo ianque vigente, sobretudo na Guerra Fria, que
aquela imagem tornou-se ícone da bravura e luta. Luta essa que aparece no
filme, mas que não vai além como o ícone de Che faz...
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