"Um Homem Bom" (filme dirigido pelo brasileiro Vicente Amorin)
apresenta a perseguição nazista aos judeus na Alemanha de uma forma
interessante e, até pode se dizer, nova para o cinema. Diferentemente de filmes
como "A Vida é Bela" e o "O Pianista", em que o personagem
principal é um judeu tentando escapar das durezas da 2ª Guerra (de forma
irreverente no primeiro filme e muito realista no segundo), "Um Homem
Bom" conta a trajetória de um professor de literatura, John Halder, o
qual, aparentemente, seria um homem digno e “de bem” (para não citar o título
do filme) vivendo no período de ascensão do regime nazista na Alemanha. A
perspectiva é de que Halder procurou manter-se distante do partido nazista o
máximo que pode, até o momento em que um livro escrito por ele, tratando sobre
o tema referente à eutanásia, é inscrito numa lista de apoio à propaganda do
governo nazista. Logo vemos o personagem principal ser empurrado pela corrente
de nacionalismo alemã e de prosperidade na profissão, havendo constantes promoções
em sua carreira a partir do momento em que se filia ao partido nazista. Dessa
maneira, o filme busca explicar como um alemão aparentemente coerente e com
discernimento, como Halder, chega a se tornar membro da SS (Polícia Política
Nazista[1]). Durante o filme, vemos
Halder constantemente destratar a figura de Hitler e não apresentar nenhuma
devoção ao nazismo ou à segregação dos judeus. Ele aparece dessa forma como o
que poderia ter ocorrido com muitos alemães no período, os quais, não cientes
de toda a extensão das ações do partido nazista e submetidos à ascensão social,
tomavam parte no esforço de guerra alemão. Uma vez tomadas as decisões hierárquicas
(de cima para baixo), tinham de se submeter a elas, ou seja, uma vez dentro da
estrutura nazista, não poderiam mais discordar do regime totalitário, havendo o
risco de sofrerem represálias. Até agora, sendo tudo isso descrito no texto, fica
difícil de acreditar que vamos conseguir ter simpatia por esse tal homem bom,
que, afinal de contas, era um nazista. Então, entra o efeito do cinema, o qual
apresenta cenas em que, na maioria das vezes, concordaríamos com as ações
tomadas por Halder, que é quase sempre colocado contra a parede se discordasse
dos elogios feitos a ele e à sua obra literária, sendo esses elogios feitos pelos
oficiais nazistas que o promovem. Destaque, também, para o fato do personagem
principal aguentar, pelo menos, até a metade do filme, uma esposa neurótica e
uma mãe demente (possivelmente sofrendo de alzheimer), tendo que cuidar de seus
filhos quase que sozinho. Resumindo, o homem era um “santo”, que foi cooptado
pelo regime nazista e que tinha um amigo judeu, ainda por cima. Surpreso com a
amizade com um judeu? É, eu não podia entregar tudo do filme aqui, porque, afinal
de contas, quero que vocês assistam. Assim, fica a dica: prestem atenção na
relação entre Halder e seu amigo judeu - Maurice.
[1] O cargo que assume, inicialmente, é
mais uma posição simbólica, visto que a SS buscava ter homens letrados e de
prestígio em suas fileiras.
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