Não há duvida que o contato entre diferentes culturas gera choque. No sentido de que o que é desconhecido é estranho e portanto chocante. Quando a expansão marítima européia começou, ainda no século XV, um resultado inevitável foi um contato com o diferente, o diverso, tanto que esses territórios desconhecidos eram chamados de Novo Mundo (fora a própria Europa, o Oriente e o norte da África). E analisando esse choque cultural não podemos negar os fatos, os nativos do Novo Mundo saíram perdendo e muito com a chegada dos europeus. Perderam em vidas, milhões se tornaram em uma parcela até as vezes diminuta da população de alguns países. Perderam suas terras sendo obrigados a migrar e muitas vezes fugir do que se tornou uma invasão, uma vez que os europeus cientes de que esse mundo desconhecido tinha muito a oferecer se apropriaram das terras. O choque se tornou guerra, um conflito que não pode ser reduzido a condição dos índios x europeus, mas sim entre uma diversidade enorme de culturas e povos que se relacionavam entre si e agora tinham novas relações com os também diferentes povos europeus. E são nessas relações de choque entre povos e culturas que se inserem os roteiros que classifico como irmãos de "A Missão" de 1986, logo o irmão mais velho, e o mais recente "Avatar" de 2009. Surpreso? Deixa que eu ti explico...
O filme "A Missão", que alias conta com Robert De Niro e Jeremy Irons , tem tudo haver com "Avatar" a mais badalada ficção cientifíca dos últimos tempos. Desconfio eu que James Cameron, o diretor de "Avatar", apesar de ter tido toda uma trabalheira¹ para fazer o filme e criar um universo fantasioso alternativo, no final das contas copiou, ao menos, o esqueleto do roteiro de "A Missão". Vamos a análise das duas obras. Ambas tem como pano de fundo a exploração colonial, ou seja, o interesse no lucro por uma das partes na relação colonizador e nativo. Em "A Missão" com ambientação histórica no século XVIII, nas florestas brasileiras e em "Avatar" em um universo alternativo, em um planeta ou lua, seilá o que... A ação dos humanos querendo explorar as riquezas dos Navi's (povo nativo alienígena de Avatar) é igual a ação dos europeus querendo explorar a riqueza e o trabalho dos indígenas em "A Missão". Ok, mas isso ainda não parece uma cópia é uma análise muito superficial sôr... Então ti liga que tem algo bem mais similar nos dois filmes. Os personagens principais são idênticos em termos de relação com a trama .
Jake Sully de "Avatar" é um aleijado, portanto alguém com severas dificuldades de locomoção e com um problema como um peso a ser superado por um soldado que ele é. Mais, ele vem a se tornar um avatar (encarnação física dos Navi, através de um humano) por força da circunstância da morte de seu irmão. E Rodrigo Mendonza (interpretado por De Niro), personagem principal de "A Missão" é um mercador de escravos espanhol que faz da violência seu modo de vida, terminando por matar o próprio irmão na disputa pela mulher que ama. O remorso pelo assassinato do irmão, leva-o a juntar-se aos jesuítas, ou seja, por força da cirscustância da morte do irmão ele se torna um jesuíta. Rodrigo Mendonza claramente carrega um peso, um problema a ser superado, assim como a deficiência física de Jake Sully. O personagem Rodrigo Mendonza ainda transforma esse peso em realidade nas cenas do filme em que carrega, pelo caminho tortuoso das florestas e cachoeiras, todos os pertences do irmão falecido. Assim a carga dos pertences e da morte do irmão é igual deficiência de Jake Sully, que também se recente de assumir a posição de avatar proposta para seu irmão.
Não para por aí, o desenvolvimento dos personagens principais é idêntico se excluírmos o elemento da fantasia e da ficção de "Avatar". Enquanto Jake Sully se insere na cultura Navi e descobre cada vez mais sobre esse povo e sobre a região em que vivem, Rodrigo Mendonza passa pelas mesmas situações em relação a tribo indígena² que passa a "proteger" no seio da floresta amazônica. Assim podemos traçar um paralelo entre a catequização jesuíta, junto aos índios, e a ação dos avatares para com os Navi's. Eles buscam por motivações próprias ou por um comando, caso do soldado Sully e do jesuíta Mendonza, conhecer a população local e adequa-lá a exploração colonial, algo como moldá-los ao interesse dos colonizadores. Essa é a intenção que os dois personagens acabam por perverter, a medida que se apropriam daquelas culturas estranhas como se fossem suas e passam a defender os interesses dos colonizados. Dessa situação partem então as cenas finais de conflito em "A Missão" com Rodrigo Mendonza defendendo os índios missioneiros e em "Avatar" Jake Sully lutando ao lado dos Navi contra os colonizadores humanos. Assim os roteiros como que se abraçam e podemos fixar uma ideia interessante a de que os jesuítas agiam como avatares ao estabelecerem um contato mais permanente com os colonizados.
¹ Comenta-se que começou a trabalhar a ideia ainda em 1995, mas que não havendo a tecnologia necessária na época, investiu para cria-lá.
² Inclusive em uma cena ele é pintado pelos indígenas de forma, que podemos dizer tornou-se um avatar.
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